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21.6.09

Want&Need

Quando se Ama, querer e precisar viram um só.
O ser volta ao que é. Uno.

12.6.09

Matrimónio

Uma das maiores infelicidades cometidas pelo homem a si mesmo é ceder o lugar do matrimónio ao património - o trono: só que o nosso lugar é sempre a mãe-terra - do amor.

De que nos valem os monumentos sem o vivo amor entre nós?
Ahh, sim! mil vezes antes o devastador terramoto dos corações apaixonados!
Mil vezes antes viver simplesmente (a)o ar livre de amar!

Caiam! Caiam todos os patrimónios que se perderam irremediavelmente da sua origem: do matrimónio.
Caiam de novo à terra, ao menos. E deixem viver em pé quem pela terra ainda vive!
Quem vive do coração em chamas de eterno amor.

Vivas ao Santo António! Ao Santo Matrimónio!

31.5.09

Ouvir o Coração

Nesta vida raras foram as conversas que se deram sem erro, falta. Muitas foram as que em silêncio poderiam ter sido perfeitas: se não nos tivessem (des)habituado (ai de nós, tão desabitados) a ignorar o silêncio - a Vida.

17.5.09

Fogo

Jamais se apaga o que tudo apaga acendendo-se.

14.5.09

Coração, o Trono da Palavra

«Tenho tal medo da palavra dos homens.
Eles exprimem tudo com tanta clareza:
e isto chama-se cão e aquilo casa,
e aqui é o começo e acolá é o fim.

E também me amedronta o seu sentido e o seu jogo com o escárnio,
eles sabem tudo o que vai ser e já foi;
não há monte que lhes seja maravilha;
o quintal e a quinta deles vão às fronteiras de Deus.

Hei-de advertir e opor-me: Ficai de largo!
Gosto tanto de ouvir cantar as coisas.
Mal lhes tocais, ficam hirtas e mudas.
Matais-me todas as coisas.»
Rainer Maria Rilke, Alba Poética

«O que estava sentado no trono afirmou: Eu renovo todas as coisas
Ap 21:5

13.5.09

O Grito (do) Criador

«As criaturas da esperança recebem a palavra do apóstolo, a palavra nova, que é o seu próprio silêncio feito voz. Ouvindo-a, alegram-se, como num súbito ambiente luminoso. Ávidas de arder, incendeiam-se de alegria. Elas e o apóstolo encontraram-se no mesmo caminho do Futuro. Algumas, tentam deter-lhes a marcha, ou ficam, nas margens, paradas ou hesitantes. Mas quem as deterá no seu ímpeto? Quem deterá a fome, a sede...?
Paulo não transmitia às almas a sua doença, porque elas já sofriam, como ele; mas sofriam sem remédio. Escravas, ignoravam a liberdade; criminosas, ignoravam o perdão; mortais, ignoravam a imortalidade. E eis que aparece um criminoso, que viu o perdão em Jesus Cristo; um escravo, que viu a liberdade em Jesus Cristo; um mortal, que viu a imortalidade em Jesus Cristo. É S. Paulo.
Todos queremos emendar a nossa vida; mais: emendar a Vida. A que aspira o criminoso? A ser inocente. E quem sofre? A gozar. E quem morre? A ressuscitar. Será possível? A razão diz que não. Mas Paulo diz que sim, gritando. Este sim é ele mesmo, volatilizado num grito, que abala e renova todas as coisas. Podemos duvidar duma palavra, dum grito ninguém duvida; vem de mais fundo que a palavra e sobe mais alto do que ela. O verbo do apóstolo tem a intensidade dos gritos. É o verbo divino da loucura, que todo o acto criador é de loucura, desde o Genesis. Ofende a ordem estabelecida, a harmonia consagrada, os ditâmes da razão humana. A atitude divina é anti-racional [supra].
Paulo afirma de tal modo a sua ideia religiosa, que lhe dá perfeita realidade. É um condensador de nubelosas, um acendedor de estrelas. Para ele, evocar é materializar. Evoca Jesus e converte-o num ser presente. A dor pertence ao corpo, embora seja a alma a padecê-la. A dor é deste mundo; e o seu poder plástico infinito concebe anjos e deuses, que penetram nos domínios da existência.
Paulo afirma Jesus e todos o acreditam, porque o vêem, na sua afirmação, como ele o vê. Paulo viu Jesus e ouviu-o! Como descrer ou duvidar? A descrença é cegueira e a dúvida é falta de vista. Duvidar é pensar em linha quebrada; mas crer é pensar em linha recta. A crença é a mais curta distância entre a Verdade e o nosso pensamento, ou é, talvez, a ausência de distância entre a Verdade e o Pensamento.
Nem os seus olhos nem os seus ouvidos se enganaram. Não é Paulo o espírito da luz e o do som, o instinto fatal que não se ilude? Esse instinto de anjo ou bruto, que divinizou a ibis e o touro negro, no Egipto, e outros bichos ainda, que nos bichos, e até nas árvores, há um valor secreto e mitológico. Moisés e Alexandre usaram chifres, na cabeça. Tocaram-se de mistério e divindade, como Virgílio, cingindo a coroa de louros, e os padres celtas envolvendo-se na sombra litúrgica dos bosques.»
Teixeira de Pascoaes, São Paulo

«Já viram Deus as minhas sensações...»
Fernando Pessoa, Passos da Cruz

12.5.09

Os amantes

René Magritte, 1928

Ser apenas o que vê, não ser quem vê.
Mas para não ser quem vê... não se vê...

ficando o ouvir,
o invisível amor em estado puro - Original.

«Amar Jesus é ser com ele na morte passageira e na vida eterna. Não se trata de sobrevivência, em nós, de qualquer entidade invisível e abstrata, mas do próprio corpo [do coração: do Amor] ressurgido.»
Teixeira de Pascoaes, São Paulo

7.5.09

Grito da Serra

A Água é o grito mudo da Terra:

é o grito que dá à Luz.

5.5.09

Ave Poética

«Somos um povo de apaixonados. Enamoramo-nos dum autor, ou odiamos pessoalmente um outro, e a nossa actividade crítica cessa. Do primeiro fazemos um génio; do segundo, um animal. Esta simples coisa de gostar simultaneamente da obra de dois escritores, é impossível aqui. A paixão duma exclui a da outra. (...)
Sofre de grandes vícios a vida mental portuguesa (...). Não há pregação que nos dê fantasia, finura, leveza e, sobretudo, o dom de argamassar as fendas da construção com o betume duma inteligência que não cesse de se desdobrar. Mas um dos mais feios e lamentáveis é esse da parcialidade e do exclusivismo. Está bem, ou compreende-se, que num campo de futebol cada qual berre apenas pelo seu grupo. Embora em absoluto devêssemos aplaudir também as jogadas do adversário, tratando-se dum desafio é preciso incitar os nossos. Em arte, porém, não há combate nem adversários. Há o esforço de cada criador para trazer ao mundo a consciência e a beleza que pode, e ninguém deveria ignorar esse esforço e deixar de o louvar, se ele valesse a pena.

Lavro aqui mais uma vez o meu protesto contra toda esta filosofia do pessimismo que nos sufoca, e esta literatura do absurdo que nos liquida. Nenhum argumento nem nenhum sortilégio podem apagar no espírito do homem a luz de ilusão que ali bruxuleia. O erro grosseiro dos ironistas e dos derrotistas é não verem que eles próprios desmentem o visco e as profecias, porque, se lutam, é porque confiam. Sobretudo, parece-me uma limitação querer fotografar para a eternidade a face monstruosa dum momento. A Europa pode estar cansada, falida, contaminada por vícios incuráveis; mas a Europa não é o mundo, e ela própria tem ainda pedaços do corpo sem gangrena. Quando todos os analfabetos e famintos que lhe restam tiverem voz e pão, e falem de náusea, quando a herança da história, os bens do espírito, forem repartidos igualmente por todos os seus filhos, e o clamor colectivo seja de teimosa renúncia, então sim, soou a sua hora. Mas antes disso, não!
Um equívoco lamentável fez com que se tomassem as palavras literárias que morriam na capa das brochuras por sentimentos reais que agonizavam. E se é verdade que nos livros a tinta dos vocábulos descorou, dentro de cada um de nós o coração continuou a pulsar.
O homem é não só o instante em que se contempla num espelho, mas também a saudade doutras imagens passadas de que se recorda, e a certeza doutras imagens futuras que adivinha. E lá porque vê presentemente reflectida no ribeiro, onde mais uma vez faz de Narciso, não para se namorar, mas para se conhecer, uma face macerada, coberta dos suores da cobardia, nem por isso afoga na corrente os seus olhos. Embora triste e mortificado, continua a viver. E isto é sinal de confiança. Uma prova de que o mal tem remédio.
Se mais não houvesse a esperar da nossa condição, bastava-nos a má-consciência com que nos debatemos depois de cada perfídia. Pedimos ou não pedimos à lei que nos socorra, mesmo quando a queremos negar? Ou deixou algum tirano de lavar apressada e secretamente as mãos sujas do sangue inocente que verteu?
Há ainda uma poda que é necessário fazer: eliminar da actual angústia que nos atormenta o cinismo que a macula e o parasitismo que a explora. A verdadeira razão e o verdadeiro instinto mandam curar as feridas. Só os mendigos profissionais deitam sal nas chagas para as avivar.
Alienação humana! Quem é que autorizou meia dúzia de intelectuais impotentes a falar deste modo em nome da humanidade? A chapinhar na lama deles, e a proclamar que é na lama dos outros? Que o testemunho da nossa aventura na terra é um rosário de traições e de injustiças, ninguém o nega; que é preciso que se diga isso de todas as maneiras, é evidente; mas nem tudo o que fizemos foi mau, e estamos a começar ainda.
Não! Há-de haver uma salvação possível neste mar de naufrágios, e vão sendo horas de erguer a voz contra os derrotistas da jangada. Aterrados pelas suas fúnebres ladainhas, temo-nos esquecido de reparar nos acenos do horizonte, onde amanhece sempre uma ilha à nossa espera. Não a ilha solitária de Robinson, que seria o recomeçar inútil duma vida de egoísmo e de esterilidade, mas o húmus generoso dum novo mundo onde se possa semear a esperança.

Não tenho nada mais senão as asas.
Quando subo os degraus do firmamento,
É com elas que subo e que sustento
O peso bruto desta incarnação.
Asas de penas que me vão nascendo,
E que voam depois, desconhecendo
Que fúria azul as levantou do chão.

(...) não há palavra que se escreva sem esperança.»
Miguel Torga, Diário V

Pois, «(...) é sempre alegre o gesto criador, a palavra inicial.»
Dora Ferreira da Silva, Poemas em Fuga

3.5.09

Alvo

«O arco, a corda e a seta...
Mas erraste,
Poeta!
Em vez de ser no coração do mundo
Que acertaste,
Foi o teu que rasgaste.

E tão frágil que ele era!
Rubra quimera
Aberta à desventura
Do eterno desdém,
Pedia aquele cuidado que se tem
Junto dum berço ou de uma sepultura.

Mas desferiste o golpe enraivecido,
Sem reparar
Que o agressor é sempre o agredido
Quando agride a cantar.»
Miguel Torga, Orfeu Rebelde

28.4.09

Transparecida

Só as almas transparentes podem compreender as palavras:
são as palavras. São o que são. O translúcido Amor.

23.4.09

Parábola da Ovelha

«Inútil, inútil, inútil,
qualquer palavra.
Aparece-lhe apenas.
Olha para ela, simplesmente,
com essa serenidade
que só Tu e os santos sabeis ter.
Ela compreenderá.
Ela Te seguirá por todos os abismos,
por todos os infernos,
pelos caminhos todos,
e por todas as dores necessárias
para chegar ao Reino da Verdade.

Nem palavras, nem mesmo mensageiros.
Tu somente, Senhor!, Tu lhe aparece
Com Teu silêncio grávido da Tua
Revelação.
Ela compreenderá.
E não dirá também uma palavra:
nem de perdão,
nem de arrependimento, nem de graças.
Guardá-la-á, Tua Revelação, no peito
e cerrará os lábios.
Mas seguirá por todos os caminhos,
por todas as alegrias...

Desamparada, espera.
Não sabe o quê, mas espera.
(Tu não prometes nunca...)
Mas virás.
E hás-de vir sem palavras.
Com Teus olhos serenos, simplesmente, com Teus modos serenos.
E ela compreenderá, irá ter conTigo.
Serena, sem palavras.
Nem há-de reparar
que Te não vira nunca.
Irá serena, sem palavras,
como se tudo aquilo
(sua tão longa espera,
Tua chegada repentina,
vosso encontro sereno),
como se tudo fora combinado.»
Sebastião da Gama, Idem

Esta música dá-me cabo do juízo... esta limpidez de Ser!

14.4.09

Quem é o que Vê, não precisa de ter vergonha

Esconder o que seja dos outros
seria esconder de mim mesma:
pois eu sou os outros;
e eu não tenho vergonha dos outros:
de mim!