17.4.09

Rei Salomão

«Eu a rosa negra da planície de Saron lírio de seis pétalas no vale.
Como a rosa entre os espinhos cardos assim a minha amiga está entre as filhas.
Como a macieira entre as árvores no bosque o meu amado é entre os filhos.
Sob a sua sombra desejei e estive e o seu fruto luz doce na minha garganta.
Trouxe-me para a sua cave assinalou sobre mim o amor o seu pendão.
Rodeai-me de taças de vidro fundamentos pomos que adoeço de amor eu.
A sua esquerda sob a minha cabeça a sua direita que me há-de abraçar.
Vos rogo filhas de Jerusalém por gamo e por cervos do campo que não desperteis nem fareis desvelar amor na caça antes de que queira.
Voz do meu amado eis é o que vem atravessar os montes saltas sobre as colinas.
Semelhante o amado a gamo ou a cria de cervo é este aqui está além do muro brota entre janelas o que assoma pelas gelosias.
Respondeu o meu amado disse-me levanta o teu corpo minha amiga bela e caminha porque o inferno foi o exílio a chuva passou caminhou para além.
Saem da terra os rebentos eis o tempo da poda chegou hora do cântico.
E a voz da rola nos campos terra nossa peregrina que se ouve.
Na figueira brotam os figos e a vide o odor ergue-te a ti mesma amiga minha formosíssima e vem contigo. Minha pomba brava nos recantos da escarpa oculta nas espirais descobre a tua face Rosto faz ouvir a tua voz e essa tua face Rosto desejável.
Prendei-me as raposas novas que destroem vinhas nossas que estão em flor.
O meu amado meu unido e eu para ele o que apascenta entre as rosas lírios.
Antes de que sopre o dia e fujam as sombras na manhã na tarde sê semelhante meu amado a cabra ou a cria de cervo sobre as montanhas da separação.

III
No meu leito nas noites busquei o que amou minha alma busquei-o e não o achei.
Levantar-me-ei agora e vaguearei pela cidade pelas praças lugares amplos hei-de buscar o que amou minha alma busquei-o e não o achei.
Encontraram-me os guardas a ronda da cidade vistes o que amou acaso a minha alma?
E pouco me apartei além logo achei aquele que amou minha alma prendi-o e não o soltei até que o trouxe a casa de minha mãe câmara de minha avó quem me gerou.

(...)

Desperta Aquilão tu Austro vem sopra através do meu horto disseminem-se as suas essências.
Entre o meu amado no seu horto coma o fruto da doçura pomo raro.

V
Vim entrarei no meu horto irmã Desposada colhi a minha mirra e o meu bálsamo.
Comi o meu favo com o meu mel bebi meu vinho com o meu leite
ó meus amigos
comei e bebei e embriagai-vos vós meus companheiros.
Eu adormecida e o meu coração desperto voz de meu amado batendo abre irmã minha companheira
minha pomba perfeita minha a minha cabeça cheia de orvalho os meus cabelos de gotas de noite.
Despojei-me da minha túnica como a vestirei? Lavei os meus pés como os sujarei partindo?
O meu amado escondeu a mão pelas frestas das portas e o meu ventre estremece em mim ao tacto ao ruído.
Levanto-me a abrir ao meu amado minhas mãos gotejaram mirra líquida e os meus dedos mirra a que rescende líquida sobre os gonzos da aldraba os cadeados.
Eis abri eu ao meu amado e o meu amado partiu encobriu-se já não reside:
Encontraram-me os guardas a ronda da cidade feriu-me fizeram-me chagas tiraram o meu manto de sobre mim os guardas das muralhas.

Vos rogo filhas de Jerusalém se encontrardes o meu amado que lhe direi? Que sou doente de amor eu.
Em quê o teu amado é maior do que outro amante ó a mais bela das mulheres
porquê o teu amado é maior do que outro amante e assim nos conjuras?
O meu amado é branco e vermelho é o arco o escolhido com o seu pendão entre milhares.
A sua cabeça ouro fino de Tibar as suas madeixas pendem como palmas crespas negras como corvo.
Os seus olhos olhos de pomba à beira de mares arroios de água que se lavam no leite ajustam no seu engaste na amplitude.
As suas faces como sulcos de bálsamo ou jardim montículos de aromas misturados.
Os seus lábios rosas as que destilam mirra a que escorre líquida que circula.
As suas mãos de ouro no trono cilindros cheios de ónix a pedra que vem de Tarsis de jacintos.
O seu ventre marfim a branca obra de Ebur cercada de safiras.
As suas pernas colunas de mármore cimentadas sobre as bases de ouro fino.
O seu Rosto como o do Líbano escolhido erguido como cedro.
O seu paladar doçura o desejável meu amado o meu amor
ó filhas de Jerusalém.
Atribuído a Salomão, Cântico Maior

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